Através da minha lente, examinei os rígidos contornos da sua face severa. A sua tez escura parecia absorver toda a luz, escurecendo a minha vista e deixando-me que nem um desgraçado refém com os olhos vendados. À medida que baixava a minha capa, ouro faiscava no meu campo de visão, revelando uma serpente a esmagar um elefante cambaleante e subalimentado. Era uma medalha de orgulho. Orgulho pelo desrespeitoso assassinato de um gentil e justo mamute. Como o Nhamalanda explicara uma vez ao seu amigo, usavam o sangue de inocentes para desafiar o governo de Angola
“Acho que talvez valhas uns quantos milhares de escudos,” murmurou o guerrilheiro com um ar divertido, espreitando pelo visor do compartimento da película. A rir, fez-me rodar para ver dois outros guerrilheiros atirando preciosas fotografias de familia para o chão enquanto rebuscavam as mochilas dos soldados do Nhamalanda.
“Encontrámos comida Soba,” informou um deles. O homem que me agarrava ordenou: “Levem tudo.”
Os rebeldes sorriram, atafulhando os seus sacos com a comida. Uma cacofonia de murmúrios e gritos ecoava no ar - uma matilha orgulhosa da sua caçada.
As rajadas de vento eram tão fortes que os arbustos abanavam violentamente. Só que, com a minha lente ampliada pelo manuseamento descuidado do Soba, eu podia ver um homem saindo a correr das bissapas com uma metralhadora na mão.
Num instante, a barulheira dos Guerrileiros foi silenciada por uma monstruosa rajada de balas. Sem conseguir processar a imagem à minha frente, fui atirado contra o muro da cacimba enquanto o Soba empunhava a sua arma apressadamente.
Com a cara enterrada na areia, eu não conseguia discernir se os tiros eram da chegada do meu herói ou se era o som das balas que o atingiam. Porém, através da lente desfocada, reparei que o resto dos rebeldes – ao meu nivel, no chão – se escondiam atrás de sacos.
“Atirem!” gritava o Soba, uma ordem para orelhas moucas. No entanto, as balas continuavam a chover na área, cada vez mas próximas dos guerrilheiros. A poeira toldava-me a visão quando os homens finalmente se ergueram, adicionando o seu poder de fogo à batalha que decorria.
“Não o matem, apanhem-no, apanhem-no!”, ordenava o líder dos guerrilheiros
Quem quer que estivesse por detrás da metralhadora era realmente importante, valioso demais para ser morto. Uma fotomontagem surgiu à minha frente, em que o soldado era torturado para se obterem informações, suplicando que o matassem. Esperava que não acontecesse isso ao homem!
Um estampido de botas passou por mim, fazendo com que o solo vermelho cobrisse a minha lente. Na minha posição toda torcida, observei a silhueta de um homem surgindo através da nuvem de poeira. O seu corpo colossal e a sua extrema altura eram grandes demais para caberem no enquadramento da máquina. Porém, à medida que os seus passos se aproximavam, a minha visão do objecto melhorou e focou a sua face familiar.